COMISERAÇÃO NOTURNA - RADYR GONÇALVES

Balanços de cordas -- Radyr Gonçalves

                                 
  

 Bombeio no poço das lembranças antigos balanços de cordas
Armados nos músculos do cajueiro

A vida indo e vindo ao som da canção da madeira
As tardes amareladas – o sonho azul – o tempo bem costurado

O sabor do vento beijava a infância
A imaginação era uma semente fértil

Eu tinha meu paraíso – meus túneis de glicínias
Meu carrossel de girassóis falantes
Minhas minhocas Cartepillars
Meu baú de cedro abarrotado de ilusões

Tomava banho de mangueira
Na bica – quando chovia – e chover era tão raro
Quando chovia éramos mais ricos ainda

Eu era dono da rua – e minha rua era ladrilhada de piçarro
Eu tinha um carro feito de algodão de nuvens vespertinas
E um trenzinho de garranchos matinais

Eu tinha um reinado simplório – uma visão musical do mundo
Eu cantava por tudo, pra tudo, com tudo
Eu acreditava nas fadas – nos bichinhos das maçãs
Nas vozes das pedras

E quando eu me balançava pra lá e pra cá no balanço de cordas
Eu nem sabia que aquilo era o que chamam hoje de felicidade
Era natural ser feliz naquele tempo...
Diferente de hoje.

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Radyr Gonçalves
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