COMISERAÇÃO NOTURNA - RADYR GONÇALVES

Lendo Bukowski


... Diante da expectativa nua do vazio daquela noite
Lá estava ela – cheia de si – atolada em controvérsias

Seminua – fazia firulas na cama – lendo Bukowski
Aninhada entre luas e cios
Plainava entre os lençóis como só algumas mulheres plainam...

Divagava entre uma frase e outra do livro
Livre, criava seus redemoinhos de loucuras
E tecia sua própria calma

A calma daquela moça ainda era uma tempestade
Lírica, refletia no espelho toda nudez da liberdade

Aquela liberdade de andar sem roupa por entre as nuvens
E acenar para os aviões

E andar de mãos abanando entre as multidões de transeuntes vestidos de rótulos, marcas e armaduras...

Lia Bukowski e ler Bukowski era como acender uma vela
Que iluminava o quarto, os olhos, e quebrava dela, aquela palidez mística
De mulher estranha, que era ela...


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Radyr Gonçalves de Araújo