COMISERAÇÃO NOTURNA - RADYR GONÇALVES

Na cadeira




- Me encolho na cadeira -

Olho minhas unhas ruídas
A praga dos dias, o sol escaldante, com pimenta nos raios
Meu verso olhando de soslaio
Desconfiado

Minha dor que ninguém sente – Ninguém sente a dor de ninguém –
Meu capricho oculto
Minha falta de culto
Universo sem pauta
Minha escolta de letras

- Me estico na cadeira -

Minha dor ciática
Minha miopia deixando as imagens com um aspecto macio
A maciez das minhas mãos calejadas de sofrimento
Aquele sofrimento mudo
Que a gente guarda nas gavetas das retinas
Aquela dor que não faz chorar
Mas faz morrer em pequenos pedaços
(Sou sobra de estrela)

- Me espreguiço na cadeira amarela -

A palidez dos meus olhos
A curvatura dos meus lábios
A inquietude dos meus pés
A aventura das minhas mãos navegando com uma velha caneta

E minha alma vai naufragando
Naufragando
Naufragando

Não há terra a vista...

- Adormeço na cadeira...-

-
Radyr Gonçalves

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