COMISERAÇÃO NOTURNA - RADYR GONÇALVES

Ceifadora






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Ela vem sorrateira
Com seu vestido bordado de sangue e silêncio

Ela vem, eu penso, voando entre brumas,
Cantando um inaudível hino
Sobre peregrinos versejantes
Passageiros errantes
Que bailam loucos sobre a terra

Ele vem matreira
Com seu braço de madeira e lâmina
Podando portas
E janelas
Quebrando tramelas
E desfazendo planos

Ela vem desvencilhando-se dos poderes
Aquém dos deveres
Dos reis, mandantes, presidentes

Sem apegar-se a títulos
Posições
Razões
E registros

Ela vem abafando vozes
Quebrando inocentes
Descrentes e algozes

Sem ponderar qual é a religião do sujeito
Leva nos peitos
O cravo
O sangue
O lodo do mangue
O madeiro da cruz

E com a foice fatal
Dá o corte final
No cordão invisível...

E o homem morre
E a morte ri...




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Radyr Gonçalves