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Ouça, moça:
O acorde do
meu choro
E o cantar
desafinado dos tetéus
Chorar de
noite é mais que chorar no escuro
É plainar por
entre as velas feito um pernilongo louco
É morrer pouco
a pouco no mar morto das lágrimas
E ouvir o
burburinho dos trovões do silêncio
Quando o
silêncio faz chover é triste
A depressão de
um carvalho é um castigo
Trago comigo a
sina de regar calado o medo noturno
E negar as
raposas meu ser taciturno
E fazer
parecer um girassol fascinado
Ouça, moça:
A nota
desarranjada do meu soluço
E a sinfonia
amarga de um mocho coxo
Carpir a
poesia despejada em chão empoeirado é dilacerante
Não sinto o
cheiro do perfume das deusas
Nem o sabor do
fruto primaveril
Quando a
tempestade quebra as teias da quietude
O homem
despeja-se no desespero da loucura
E grita – e
ninguém escuta
E chora – e a
dor não minora
E apega-se as
cordas do silêncio impenetrável
Onde não há
chuva, não troveja, e não há ninguém que veja os sulcos da dor...
E faz-se
necessário fingir – e sorrir da janela – e desenhar um sol no chão...
Para maquiar a
tristeza, a solidão. E seguir a vida.
-
Radyr Gonçalves