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ENSAIO SOBRE PAIXÕES PROIBIDAS
(Radyr Gonçalves)
Fechou o olho e chegou ao Arkansas,
Dançou em Lettle Rock,
Sambou em Jacksonville,
Conheceu Diana, a mulher do capeta,
Flertou, beijou, traiu, fugiu de cuia e maleta,
E perneta de uma praga, caiu...
O olho caolho se abriu,
Era abril quando março morria guerreiro,
Era abril quando ele abriu um berreiro,
E já não podia mais sonhar,
E já não podia mais dizer,
E não podia escrever,
Nem poetar, nem versejar e nem cantar...
Abriu o olho caolho e viu que estava acordado,
Ateu cheio de crenças, armado com varinhas de condão,
Com o coração apertado,
Vazio,
Cheio de presunções e desordens mentais,
Pulando cerca, invadindo quintais,
Cambaleando feito uma carrapeta louca,
Fechou o olho e sonhou,
Na Índia chegou,
Em meio a camelos e elefantes,
Rodeado de mimadas vacas e mulheres tetudas,
Pasmado ante os adoradores de Ganesha,
Lambuzado de arroz e doce de leite
Conheceu Agrima, mulher de Belial, e apaixonou-se,
Cariciou, beijou, amou e foi punido,
E em chamas latejantes no inferno chegou...
Abriu o olho caolho e acordou na cama,
No velho cais,
Belial olhava pelas frechas da veneziana e dizia de si
pra si:
Feche o olho caolho, vem mexer com minha bela,
Hás de precisar de vela, pra tua morte iluminar...
Não mais fechou o olho, o caolho,
E tudo ficou no lugar.