COMISERAÇÃO NOTURNA - RADYR GONÇALVES

Quimera Ferida



Lágrimas
Matéria da minha saudade
Mar da minha dor

Cheiro de amêndoas
E sobras de mandrágoras
Na sala do meu passado

Ela deixava os vestidos em desalinho
E as sandálias fazendo caminho
Até a cama perfumada

Sempre as cinco as gaivotas cortavam o canal
O sol despejava seus últimos raios
E a maré ia se aquietando ao som da brisa

Uma rotina poética

O sino dobrando
As andorinhas voltando
O vento engolindo o tempo
E as carolas a rezar

Eu
Lá no alto do sobrado
Esperando ela chegar

Devorando doces maçãs
Me envenenando de vontades

Eu tinha uma lira viciada
Um corpo tecido em versos

Eu tinha motivos de vida
Fragrâncias de luz

Tinha um ninho, uma quimera de setembro
Destas quimeras que a gente prega na alma
E fere
E vira estigmas
Como estas aqui em minhas mãos.


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Radyr Gonçalves
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