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Não deixou nem as digitais nas louças. Partiu como se morresse. Morreu pra mim como morre agora a primavera. Eu não tenho mais como chorar. Meu orgulho boicotou minhas lágrimas. Estou cego, roto, cheirando a pão bolorado. Neurótico – revendo agendas e restos de perfumes que compunham a nossa história. Nada deixou. Levou a energia da nossa cama e o viço dos nossos lençóis. De nada tenho medo, mas neste momento minha glândula tireóide parece ter sorvido a última gota de iodo. Eu já não sinto meus pés. Creio que este fantasma que agora escreve – sou eu.
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Radyr Gonçalves
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